sexta-feira, 19 de março de 2010

Ao meu PAI


O Pai

Terra de semente inculta e bravia,
terra onde não há esteiros ou caminhos,
so o sol minha vida se alonga e estremece.

Pai, nada podem teus olhos doces,
como nada puderam as estrelas
que me abrasam os olhos e as faces.

Escureceu-me a vista o mal de amor
e na doce fonte do meu sonho
outra fonte tremida se reflecte.

Despois... Pergunta a Deus porque me deram
o que me deram e porque depois
conheci a solidão do céu e da terra.

Olha, minha juventude foi um puro
botão que ficou por rebentar e perde
a sua doçura de seiva e de sangue.

O sol que cai e cai eternamente
cansou-se de a beijar... E o outono.
Pai, nada podem teus olhos doces.

Escutarei de noite as tuas palavras:
...menino, meu menino...

E na noite imensa
com as feridas de ambos seguirei.

Pablo Neruda, in "Crepusculário"


A ti meu pai, aqui fica a minha homenagem, do fundo do coração com muito amor e carinho, por toda a paciência que sempre tiveste comigo ;)

Da rezingona da tua filha! Beijos